Opções de privacidade

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Publicado em 09 de outubro de 2025

A transformação digital trouxe ganhos significativos para a indústria, mas também abriu novas frentes de vulnerabilidade. Em um cenário em que sistemas de Inteligência Artificial (IA) são cada vez mais aplicados a processos críticos de manufatura, energia, óleo e gás e logística, a segurança cibernética deixou de ser apenas uma preocupação da área de TI. Hoje, ela é um fator determinante para a continuidade operacional e para a proteção de ativos essenciais.

Neste artigo, exploramos as vulnerabilidades específicas da IA em ambientes industriais, os riscos associados e as estratégias mais eficazes de mitigação, incluindo criptografia, auditoria de modelos e monitoramento contínuo. Também discutimos normas e boas práticas internacionais que podem inspirar a adoção de padrões mais robustos no Brasil.

O novo contexto de risco: IA e Indústria 4.0

Com a convergência entre Tecnologia da Informação (TI) e Tecnologia Operacional (TO), a chamada Indústria 4.0 conecta IoT, automação avançada e inteligência artificial a sistemas de produção. Esse ecossistema digitalizado trouxe eficiência, personalização e redução de custos. Por outro lado, ampliou drasticamente a superfície de ataque cibernético.

Segundo pesquisa da Dell Technologies (2023), 78% das organizações brasileiras sofreram algum ataque cibernético nos últimos 12 meses. Além disso, 54% dos líderes empresariais afirmaram temer que a IA generativa traga novos riscos de segurança e privacidade.

Se em setores críticos como energia e manufatura uma falha digital já significa risco de interrupção, os impactos de ataques contra sistemas de IA podem ser ainda mais graves, variando de paralisações operacionais a danos físicos, ambientais e até ameaças à vida humana.

Vulnerabilidades específicas da IA em ambientes industriais

Diferentemente de sistemas tradicionais, a IA apresenta pontos de ataque particulares:

  1. Ataques adversariais – pequenas alterações intencionais em dados de entrada podem enganar modelos de IA. Um sistema de visão computacional, por exemplo, pode classificar uma peça defeituosa como correta devido a ruídos inseridos propositalmente;
  2. Manipulação de dados de treinamento – também chamada de data poisoning, ocorre quando agentes maliciosos inserem dados comprometidos em conjuntos de treinamento, distorcendo os resultados do modelo;
  3. Roubo de modelos (model extraction) – técnicas que permitem copiar ou replicar um modelo proprietário, comprometendo propriedade intelectual e vantagem competitiva;
  4. Injeção de backdoors – alterações sutis em algoritmos de aprendizado que permanecem inativas até que um “gatilho” específico seja acionado, abrindo portas para ataques direcionados;
  5. Vazamento de dados sensíveis – como modelos de IA são treinados com grandes volumes de informações, há risco de que dados confidenciais sejam expostos por falhas de segurança.

Estratégias de mitigação

Para enfrentar esses riscos, a segurança para IA precisa ser tratada de forma estruturada, combinando tecnologia, processos e governança.

1. Criptografia e anonimização de dados
  • Criptografia homomórfica permite processar dados criptografados sem precisar descriptografá-los, protegendo informações durante o treinamento;
  • Anonimização e mascaramento evitam que dados pessoais ou sensíveis sejam reidentificados a partir de saídas do modelo.
2. Auditoria e validação de modelos
  • Testes regulares com dados adversariais ajudam a identificar fragilidades;
  • Auditorias independentes garantem que modelos estejam em conformidade com normas e livres de vieses ou manipulações.
3. Monitoramento contínuo
  • Ferramentas de detecção de anomalias identificam comportamentos fora do padrão em tempo real;
  • Sistemas de alerta e resposta aceleram a contenção de incidentes antes que eles se espalhem para toda a operação.
4. Controles de acesso e identidade
  • Uso de autenticação multifator (MFA) e gestão de privilégios mínimos para reduzir a superfície de ataque;
  • Revisões periódicas de acessos a sistemas de treinamento e inferência.
5. Resiliência e redundância operacional
  • Gêmeos digitais permitem simular ataques em ambientes controlados;
  • Estruturas de backup e planos de contingência garantem continuidade de operações críticas.

Normas e boas práticas internacionais

A segurança de IA ainda é um campo em evolução, mas já existem diretrizes e normas que podem servir de referência:

  • NIST AI Risk Management Framework (EUA) – propõe práticas para identificar e mitigar riscos em sistemas de IA;
  • ISO/IEC 27001 e 27017 – normas internacionais de segurança da informação aplicáveis a ambientes em nuvem e sistemas de dados;
  • ENISA (Agência da União Europeia para a Cibersegurança) – emite guias de boas práticas para IA confiável;
  • MITRE ATLAS – framework que documenta técnicas de ataque contra IA, ajudando empresas a se prepararem contra cenários adversos.

Para empresas brasileiras, adaptar essas referências ao contexto regulatório local é essencial. A LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) já impõe diretrizes sobre privacidade, mas ainda há espaço para políticas mais específicas sobre segurança de IA aplicada à indústria.

O papel da IA para segurança e da segurança para IA

É importante diferenciar:

  • IA para segurança cibernética: uso da IA para fortalecer a proteção das empresas, detectando ameaças e automatizando respostas;
  • Segurança para IA: proteção dos próprios modelos e dados de IA contra manipulações e roubos.

Ou seja, a IA pode ser ao mesmo tempo ferramenta defensiva e ativo a ser protegido.

O papel do Instituto Atlântico na construção de IA segura

Como Instituição de Ciência e Tecnologia (ICT) com mais de 20 anos de atuação em Pesquisa e Desenvolvimento em TIC, o Instituto Atlântico contribui para a segurança cibernética industrial por meio de:

  • Desenvolvimento de soluções em IA confiável e explicável;
  • Projetos de P&D em segurança para sistemas de manufatura, energia e telecomunicações;
  • Integração de IoT, Edge Computing e redes inteligentes com camadas de proteção avançadas;
  • Cooperação com empresas e órgãos reguladores para consolidar boas práticas no Brasil.

Nosso compromisso é apoiar o setor produtivo na adoção segura da IA, garantindo inovação, competitividade e resiliência.

A inteligência artificial é um dos pilares da Indústria 4.0, mas sua adoção só será sustentável se vier acompanhada de uma estratégia robusta de cibersegurança. Ambientes industriais precisam estar preparados para lidar com ataques adversariais, manipulação de dados e roubo de modelos, adotando medidas de proteção que combinem tecnologia avançada, monitoramento constante e governança sólida.

No Instituto Atlântico, acreditamos que a inovação deve caminhar lado a lado com a segurança. Proteger modelos e dados industriais não é apenas uma questão técnica, mas um passo fundamental para garantir a continuidade operacional, a confiança do mercado e a segurança da sociedade.